Basquete foi um esporte que comecei a jogar com 14 anos de idade. Uma idade tardia para aprender a jogar, mas eu tenho a vida toda para praticar. 🙂
E mesmo depois de ter ficado 10 anos longe das quadras por escolhas profissionais (que me trouxeram até aqui), faço no basquete relação de muitos dos ensinamentos que trago para o meu dia a dia de trabalho e para meu processo de melhoria como pessoa, como profissional e como esportista que hoje sou, praticante do basquete e do tênis.
O tênis me ensinou a ter mais atitude e me colocar em posição de tomar mais decisões, de fazer acontecer. Me ensinou a esperar a hora de atacar e a defender. Me ensinou a buscar regularidade e consistência. O basquete também trabalha estas características, mas o basquete me ajuda muito a pensar em time. O basquete me ajuda a servir, em respeitar e ajudar. Em trabalhar em prol de algo maior.
O basquete me ensinou algumas coisas, e quero aqui fazer uma pequena lista. Outro dia vou falar sobre o tênis. Na verdade já falei um pouco no papo sobre jogo interno. Deixo o link no final deste texto.
Como eu comecei no basquete?
Eu tenho 1m95cm desde os 13 anos de idade. Não jogava basquete e comecei a jogar depois de muitos vizinhos me questionarem do porque eu não jogava basquete. Eu não tinha a resposta então comecei a treinar sozinho. Comprei um vídeo “Aprenda a jogar basquetebol” e a prestar atenção nas transmissões de jogos com o saudoso Luciano do Vale, na Bandeirantes.
No primeiro teste em um time de basquete, eu era o jogador mais perdido dentro de quadra. Não sabia as regras! Só tinha uma certeza: queria aprender! Nos meses que se seguiram participei de um time “extra” de treino, que treinava em uma quadra externa. Moro em Porto Alegre. No inverno, chegamos em temperaturas de 5 graus nas noites. E eu estava lá, treinando. Vi muitos colegas desistirem neste processo, porque afinal não faziam parte do time de basquete do clube. Eram do “time B” que não entrava em quadra para competir. Era frio. Éramos ruins, mas… lá eu estava aproveitando, aprendendo e entendendo cada vez mais sobre o jogo.
Um dia fui chamado para jogar no time do colégio que estudava. E comecei a competir. E depois fui convidado para entrar no time do clube. Agora eu tinha a chance de treinar na quadra fechada, dentro de um ginásio. Continuava frio, mas tinha um teto agora. Participei da parte final do campeonato estadual e acompanhei meu time no processo. No time do colégio já estava jogando e podendo contribuir com alguns títulos que ficaram para a história da escola. É um período muito saudoso também e que guardo com muita alegria, das pessoas que conheci no basquete e pelo basquete.
No ano seguinte, participei do treino para seguir no “time do ginásio”, com 38 graus de febre. O médico disse para eu ir para casa e me cuidar. Eu fui para a quadra, para participar da peneira. Passei no teste. O basquete sempre foi algo difícil pra mim. E não que seja fácil hoje. O ponto é que eu aceitei o desafio. E me coloquei em estado de aprendizado e ainda não saí dele. Não acho que vou sair algum dia. E posso falar, este jogo me motiva e chega em um ponto que até os machucados se tornam aprendizados.
Chega da história, Daniel. 🙂 Vamos ao que interessa?
Cinco motivos do porque o trabalho em equipe é igual dentro de uma quadra de basquete e em um escritório. 🙂
1- Respeitamos nossos colegas e os obstáculos presentes, sem nunca ter medo de fazer o nosso melhor. E sabemos que nossos colegas estão buscando fazer o melhor também.
Sabendo disto, você vai evitar ficar irritado porque saiu um arremesso fora de hora ou aquele passe não veio no tempo certo. Aproveite os momentos de parada para instrução, não para reclamar. A pessoa que errou o passe já notou isto. Você não precisa lembrar ela mais uma vez sobre o assunto. Agora, você pode dizer palavras para ajudar a levantar a moral e dicas de como fazer um melhor passe. E dentro da quadra de treinamento, aproveitar para lembrar quando a pessoa fizer a jogada certa, reforçando o aprendizado.
2- Potencialidades estão aí para serem desenvolvidas. Sempre existe espaço para aprendizado. Devemos ser humildes enquanto aprendizes. E também humildes enquanto mestres. Sempre. Treinar não é importante ou interessante. É necessário para quem busca excelência no que faz. Treinar é um processo, um hábito.
Um dos pontos que acredito é quando se para de pensar em vitória ou derrota e se preocupa com os fundamentos. Se preocupa com a preparação. As oportunidades vão aparecer. E elas estarão lá para quem estiver se preparando, corpo e mente, para receber a oportunidade. Treinar nunca é suficiente e não deve ser subestimado. Devemos dar atenção aos fundamentos e lembrar / memorizar como executamos um determinado movimento ou procedimento. Quando o “tempo fecha” não teremos tempo de parar para pensar no que precisa ser feito. Precisamos simplesmente fazer. E por isto o treino se torna muito, mas muito importante mesmo.
3- Trabalho em equipe sempre vai ser superior ao talento individual. Isto não quer dizer que você não tenha que desenvolver sua individualidade.
Você pode ser muito bom. Acredito nisto. Nunca vai ser melhor do que o seu time. Agora, se você é bom, e nunca ensina nada para ninguém para continuar sendo bom, desculpe. Está perdendo uma chance de ouro. Quando você se destaca é uma sensação muito boa, agora quando você se torna uma dependência para o seu time, você está criando uma situação muito perigosa. Sair de férias se torna algo impossível e ter momentos calmos também. Sempre terá alguém ligando para o seu telefone lembrando o quanto você é “importante” para a empresa. Ajuda a manter o emprego? Ajuda a manter um estado de loucura também. Aprenda a compartilhar e ensinar. Você será 10x mais reconhecido por isto do que por ser a pessoa que acumula conhecimento. Se torne um líder. Se torne um professor. E fazendo isto, se tornará um aprendiz.
4- Práticas podem sempre ajudar no processo mas os princípios é que valem a pena de serem compartilhados e acompanhados.
Os fundamentos são sempre importantes. Saber arremessar, passar, pular. Agora, sincronize tudo isto dentro do jogo em quadra acontecendo e descubra espaços para se posicionar e ajudar o time no ataque e principalmente na defesa. Não precisamos roubar a bola como regra na defesa. Devemos ter uma proposta para tornar o ataque do outro time mais difícil. E assim fazemos o nosso trabalho de defesa. Levando para o ambiente de trabalho, é trabalhar em prevenção. A proposta de trabalho deve ser desenvolver uma cultura de prevenção. Não se pode ter apenas uma pessoa gritando e preocupada com o que precisa ser cuidado. Deve ser uma tarefa de toda a equipe. Todos devem ser treinados para perceber o jogo dentro de quadra. Todos devem trabalhar para melhorar continuamente como indivíduo e como time. Isto vai ajudar a melhorar a organização, que é feita e avança em virtude das pessoas que fazem parte dela, e da identidade que criam como organização. A chamada cultura organizacional sabe?
5- Pare o jogo sempre que necessário para alinhar e fazer acontecer o que precisa acontecer. Não espere um “momento especial”.
No basquete, não se espera terminar um período de 10 minutos (regra FIBA) para poder conversar com o time e ver o que pode ser melhorado. Pare a máquina, para a máquina não te parar. Os momentos de reflexão são muito importantes. E eles são combustível para os momentos de melhoria contínua.
No trabalho em equipe, eu gosto de usar uma prática chamada de reunião diária, que é uma reunião onde a equipe se reúne e compartilha o que está aprendendo e avançando no trabalho. Nesta reunião, que não demora mais que 15 minutos, cada pessoa deve compartilhar o seguinte:
- O que eu fiz/aprendi desde a última reunião
- O que eu vou fazer/aprender até a próxima reunião
- Existe algo me segurando? Algo impedindo o meu avanço?
São perguntas simples. O time se organiza em círculos e não existe alguém ordenando o que acontece. O time se organiza, define alguém para começar e define o sentido (horário ou anti-horário). E não discute pontos específicos, mas se aponta oportunidades de discussão para depois desta rodada. Assim, quem for importante para a discussão, segue na conversa e quem não precisa ficar ali pode voltar para as atividades do dia. Esta reunião ocorre em um horário bom para toda a equipe. Normalmente final da manhã ou final do dia, depende da configuração do time. Pessoas que trabalham remoto podem entrar na conversa por telefone/skype/hangout, e também participar. E isto também funciona com times remotos, onde se pode ter um círculo virtual. Nada é impedimento para manter o conhecimento fluindo dentro de um time. Isto dentro da quadra de basquete é manter a bola sendo passada, comunicada, até encontrar alguém em posição de fazer um bom arremesso. E na defesa falar o que está acontecendo ao redor, você se torna olhos extras para os seus colegas dentro de quadra.
Um time especial:
E quando se acha que não vai mais se ver nada de diferente, o San Antonio Spurs, campeão da temporada 2013-2014 da NBA, liga americana de basquete, mostra que sim, sempre é hora de mostrar como ser diferente e ser melhor. O time possui várias estrelas, vários jogadores com muito potencial e talento, mas eles são melhores e únicos quando funcionam juntos. Quando tudo o que eles fazem é unir todos estes princípios e colocar em prática, dentro de quadra. Cada jogador conhece os seus limites, e faz questão de desafiar sempre que possível os seus limites, mas sem deixar de lado as potencialidades dos seus colegas. E com isto, sempre se pode construir um jogo mais efetivo e ajudar a levantar a qualidade do time como um todo.
O autor deste vídeo foi Colin Stanton, e ele fez alguns vídeos relacionados ao Spurs, como este que fala especificamente das finais da NBA de 2014. Estes vídeos merecem ser vistos várias e várias vezes.
Pratique basquete na sua vida!
Em 2010 eu fiz uma palestra falando sobre basquete, e mostrando como tudo pode funcionar a prática do basquete no nosso dia a dia e não somente dentro das quadras.
O que você achou? Me manda sua opinião e como os esportes que você acompanha e/ou pratica estão presentes na sua vida profissional.
Extras?
Veja o post sobre jogo interno e sobre o tamanho da sua vontade de fazer algo acontecer.
9 pensamentos sobre “Ensinamentos de trabalho em equipe através do basquete. Olha aqui você! Cinco dicas!”