Interromper? Do Observar e Perceber ao Sentir e o Saber.

Estava ouvindo um livro que fala sobre estar errado, ou sobre perceber que podemos estar errados, que talvez não tenhamos todas respostas. E uma das histórias conta sobre o tempo, menos de 20 segundos, como sendo a média que médicos demoram para interromper pacientes contando uma história. Muito na questão de querer dizer que a pessoa não sabe o que está falando e querer direcionar pro “certo“.

E claro, lembrei de situações onde (só eu acho que) não tenho tempo de ficar ouvindo histórias e quero ir logo pra solução. Isso vale em conversas presenciais e também em conversas usando ferramentas digitais, que possuem algumas ferramentas de interrupção interessantes também… e que precisam da nossa atenção.

Ver o futuro repetir o passado pode ser visto de forma positiva ou não. Entendo que a falta de tempo e ansiedade só atravessa de geração em geração. Essa parte não é tão boa.

Agora, se atuarmos com o princípio da Teoria U, conectados com uma mente aberta (curiosidade), coração aberto (compaixão) e vontade aberta (coragem), pode ser possível criar um futuro a partir do passado, de forma construtiva e colaborativa.

Será que tem como? Vou tentar trabalhar essa situação que comentei, da minha falta de paciência, olhando o início do ciclo de funcionamento da Teoria U.

Quando eu interrompo alguém, essa interrupção não acontece só quando eu falo por cima da fala de outra pessoa. Pode acontecer de outras formas:

  • Quando estou em reunião online e escrevo no chat em cima da fala da pessoa, com alguma fala que possa interromper o fluxo de ideias.
  • Quando sinalizo com o levantar de mão enquanto a pessoa está falando. Isso vale nas ferramentas digitais quanto presencialmente. Normalmente é um gatilho de objeção. Queríamos de verdade falar por cima da pessoa, mas acreditamos que um levantar de mão já vai ser o suficiente para dizer “não concordo, mas valo daqui a pouco“.
  • Quando faço uma ação não verbal que pode ser visível pela pessoa falando. Aqui quando é uma ação de desaprovação. Não é o caso de sorrir ou demonstrar satisfação com a fala. Neste caso as reações presentes nas ferramentas digitais podem apoiar também ou apenas um sorriso.

Talvez estas interrupções não sejam um problema, se assim for a combinação. Por vezes a pessoa falando não tem uma expectativa do tipo “falarei 15 mins e depois a gente discute“. Quando a fala é no formato “vou falar e podem me interromper quando preciso” aí tudo certo interromper nestas condições e combinações.

Quando acontece de eu interromper uma fala, os gatilhos que normalmente aparecem são estes:

  • você já falou isso 10x!
  • você já sabe o que está perguntando!
  • você já sabe que ainda não temos resposta para isso, está insistindo qual qual motivo?
  • você está falando isso para nos irritar!
  • eu preciso dar atenção para outro assunto, fala logo!
  • você não tem conhecimento para falar isso!

Eu reflito sobre as situações onde interrompo alguém… normalmente na noite antes de dormir ou no dia seguinte pela manhã, quando escrevo um pouco sobre o dia anterior. Ao avaliar estes gatilhos de interromper alguém, também consigo perceber duas possibilidades:

  1. Vou cuidar para dar tempo de fala para as pessoas, e poder ouvir por completo a história dela. Preciso ter paciência. Posso fazer perguntas para expandir o que está sendo trazido, mas não para interromper. Lembrar da capacidade de escutatória, onde temos mais capacidade de atenção não para responder ou julgar, mas para ouvir e compreender o que está sendo trazido.
  2. A paz não é uma opção. Logo, já que estamos em modo de conflito velado, melhor partir para um modo de confronto e deixar claro os limites disponíveis. Se existir espaço interno de quem participa da conversa, o conflito se resolve. Ou se estabelece um confronto mesmo… e aí o jogo é outro que não o da conversa e do entendimento. E aí também é uma escolha a nossa reação, seja de retração ou realmente de ataque.

O caso da segunda opção deveria nos levar para um movimento de cisão, onde uma combinação ou contrato presente não consegue se manter mais. É o sair da operação, se separar, encerrar participação em um projeto ou pedir demissão. Normalmente estas ações não são eventos e sim pequenos processos que precisam de planejamento e energia. E vamos combinar que colocar energia em algo que já nos desgasta não é o melhor dos mundos, mas é o que está disponível muitas vezes e pode funcionar para melhor.

Aqui nesta reflexão, quero dar atenção ao primeiro item, onde percebo que quero dar mais espaço de escuta ou preciso conseguir acertar a convivência com as pessoas e situações presentes. Neste caso o uso da Teoria U para construir um futuro a partir do passado pode ser bem útil.

Vamos aos passos que se percebe aqui:

  1. Suspender: aqui a oportunidade de sentir os gatilhos sendo ativados, mas conseguir no processo não ativar ou se deixar levar por eles. Quero poder reconhecer padrões do que já vivi e deixar eles irem chegando. Queremos acolher o que acontece neste momento.
    Eu quero interromper, fazer perguntas para acelerar o pensamento. Consigo parar isso e deixar a pessoa terminar a história. Mais que isso. Consigo estar presente na história sendo contada e não procurando uma pausa na fala para entender quando posso interromper?
  2. Direcionar: conseguimos olhar o que acontece com novos olhares? Quais são os valores e princípios que deveríamos nos apoiar neste momento?
    Eu sei que consigo ter espaço de escuta. Tenho neste momento. Se eu não tenho, talvez seja melhor indicar para a pessoa o que estou sentindo e a minha falta de espaço para este momento escutar. É possível? Ou preciso me esforçar para poder servir esta pessoa dentro de alguma atividade ou especialidade que eu tenho? Qual o espaço real interno que tenho e qual preciso?
  3. Deixar Ir: a partir do campo presente, do mundo real que se apresenta, o que não faz mais sentido de estar aqui? Este movimento é de entendimento de todas pessoas participantes deste campo, de que não faz mais sentido sentir o que estamos sentindo do jeito que estamos sentindo.
    O reagir e antecipar pensamentos, uma certa ansiedade, precisa dar espaço para a pausa, para a calma. Para a capacidade de escutar e simplesmente escutar.
  4. Conectar: quem somos mesmo? Precisamos nos conectar novamente conosco e com as outras pessoas que aqui fazem parte. E em um pensamento de equipe, somos presentes e percebemos que queremos fazer diferente. Que somos capazes de fazer melhor.
    A construção de uma pessoa capaz de escutar e ao mesmo tempo consegue não se influenciar pelo jeito de comunicar de alguém, pode ser mais útil com uma identidade que pode ser construída e vai ser mais importante no futuro. Uma identidade mais conectada, com mais inteligência emocional também.
      
  5. Deixar Vir: que caminho estamos construindo, quais intenções estamos trazendo pro presente.
    Aqui vai ser importante nas minhas reflexões diárias poder perceber o progresso e a minha capacidade de escutar cada vez mais. De saber que consigo criar espaço e manter este espaço interno. Isso também acontece com a manutenção e ativação da minha rede de apoio. Me torno mais forte e sei que posso oferecer o espaço presente, sabendo que também terei o espaço que preciso para reflexão e escuta.

Existem outras etapas no pensamento de Suspender, Conectar e Desempenhar (final do U), mas neste ponto que estamos tratando aqui, o foco ficou no Suspender, no Sentir e chegando no Conectar. O caminho para o desempenhar ainda teria uma etapa de testes e protótipos para unir toda a equipe no processo de busca deste destino comum. Até chegarmos no ponto de trazer algo pra dentro da equipe. Incorporar pode ser uma palavra possível neste caso.

Em 2016 eu estava estudando sobre Teoria U, estudando sobre Otto Scharmer. E fiz um pequeno vídeo em um espaço disponível na empresa para compartilhar ideias e estudos.

O estudo sobre a teoria U me lembrava muito os estudos sobre comunicação não violenta (CNV) em um aspecto e até também um pouco dos processos da programação neurolinguística de lembrar que o mapa não é o território, assim como lembrar que não existe chance de modelarmos um estado desejado sem pensar em um estado atual.

E você vai me perguntar sobre o saber? Falei sobre observar, sobre perceber, sobre sentir. O saber é um alvo que muda de lugar. Entendemos ambientes e situações e conforme vivermos seremos colocados em novas situações e novos contextos. Então o saber é mutante. Agora, se garantirmos que estamos em modo de observar, perceber e sentir… a construção do conhecimento, a construção de futuro, vai acontecer.

— Daniel Wildt

P.S.: Vejo o futuro repetir o passado é música. E o lance de repetir o passado, no meu pensamento que a gente vai se comportar igual, independente de tecnologias e ferramentas, tem a ver também com a sigla que criei ao estilo VUCA e BANI… olha aí a minha sigla.

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Uma resposta a “Interromper? Do Observar e Perceber ao Sentir e o Saber.”

  1. Avatar de Padronizar – daniel wildt
    Padronizar – daniel wildt

    […] depois que a gente faz algumas vezes e através de melhorias sucessivas. Aparece interagindo com o mundo real que é bem mais complexo do que […]