Toda vez que eu caía, tentava me levantar rápido pra ninguém ver. Aos 7 anos tive uma queda de bicicleta que eu não consegui me levantar. Aos 13 meu joelho saiu do lugar pela primeira vez. Aos 15 torci o pé, rompendo ligamentos. A dor é incrivelmente forte.
O fato é que dependendo do incidente até parece assustador. De fato é, mas o lance é que muito cedo na vida eu tive que aceitar: algumas quedas te deixam no chão, e pode ser difícil sair dali. Tem um lance de perspectiva também. Em todas as quedas sou obrigado a olhar pra cima, olhar pra direções que não eram comuns. 🙂
Depois de algumas lesões, não que eu tenha perdido o medo delas (eu jogo quase que com uma armadura hoje em dia hehe) mas eu aprendi a entender que preciso refletir em cada evento destes. E não tem a ver com insistência e persistência. Tem uma relação direta com aprender sobre o meu corpo, minhas limitações e sobre como vou seguir em frente.
Essas quedas e lesões me faziam parar por 8-10 semanas em alguns casos. Não adiantava o quanto obstinado eu estivesse com algo. Eu precisava de paciência, e de ajuda. Seja pra melhorar e também pra saber o que fazer enquanto eu esperava. Muitos projetos paralelos nasceram disso.
Acho que tudo isso pra lembrar uma cena comum em um jogo de basquete. Quando uma pessoa cai, as outras pessoas da equipe ajudam a levantar. E aí vem uma primeira pergunta: quando você cai, quem te ajuda? E quem você ajuda?
Por alguma construção social a galera acredita em resiliência estilo Rocky Balboa, mas cara… por vezes a gente vai cair e vai doer muito. Tentar evitar essa dor e pior ainda, não cuidar das feridas vai ter consequências grandes no futuro.
A resiliência estilo Rocky Balboa diz que a gente precisa desenvolver uma capacidade de ser atingido e seguir em frente. Como se fosse desenvolver um mecanismo de defesa. E não vejo a vida se desenvolver assim, apesar de viver ela por algum tempo deste jeito, forçando a barra sobre dormir pouco, trabalhar muito, não olhar pro lado e não desistir nunca. Estava jogando um jogo de tempo limitado e aguentei ficar assim por 7 anos.
Eu digo que a gente precisa entender melhor sobre certezas e também cuidar dos nossos limites. Isso me permitiu seguir outros 14 anos desde que tomei esta consciência, e ainda preciso aprender muito. Em 2006 quando tomei a primeira decisão de começar a mudar meu estilo de vida, tinha 27 anos. Ainda tenho que rodar pelo menos mais 14 anos para entender como foi viver um pedaço parecido de vida e ver o que acontece. Sei que os anos são relativos, sei que aprendi muito mais em poucos anos do que aprendi em décadas, mas uso isso como referência para me lembrar que aceitei viver um certo piloto automático por muito tempo.
Trabalhar comportamento e hábitos não é algo simples.
Isso é diferente do que eu falo sobre “skatista não cai, skatista só levanta”, porque essa frase tem a ver com vontade de fazer uma manobra acontecer, mas tendo consciência sobre cada tentativa, sobre movimentos que o corpo precisa aprender a fazer, e aprendizados que precisamos ter. Só que você deve conhecer histórias de skatistas que ficaram algum tempo lesionados e tiveram que ter paciência, até poder tentar uma determinada manobra novamente. Essa frase fala sobre um otimismo que tem consciência da realidade e da dor da realidade.
O que também que leva a refletir mais sobre sucessos e quedas que vejo pessoas terem na vida. Por vezes a manchete no jornal fala sobre um sucesso, mas nas internas existe uma frustração, uma incapacidade de fazer algo acontecer que gerou aquele outro resultado. Sempre tento entender as motivações das manchetes e procuro tentar entender a história integral.
Aos meus 27 anos eu decido deixar de viver duas empresas que tinha, para viver minha vida. Eu começo a aprender que eu não sou minhas empresas. Que eu tenho minha identidade. Ou melhor, que eu posso ter várias identidades.
A moral disso tudo? Eu vou nessa:
Valorize e aprenda com as suas quedas e não menospreze as dificuldades e vivências de outras pessoas. E sempre que você puder, ajude ativamente.
— Daniel Wildt
2 pensamentos sobre “Para quedas, ou quando você cair…”