Frágil é diferente de ser vulnerável. Não ser frágil é diferente de ser durão.

Tempos trás contei sobre minha experiência quando meu computador estragou. Eu fiquei quase 10 dias sem computador, e consegui fazer o que era mais importante para o meu dia a dia usando meu celular e também um Chromebook, onde conseguia visualizar documentos e ler emails de maneira mais confortável (também conseguia pelo celular).

Se este tipo de coisa acontecesse comigo 10 anos antes, eu entraria em colapso. Sem saber para onde me mover. Recuperar backups, ferramentas específicas, dependência com pessoas para poder fazer meu trabalho acontecer e assim vai.

Quando falo sobre deixar de ser frágil, você pode ligar diretamente em parte ao que o Taleb fala nos livros dele, e o meu ponto de reflexão aqui é sobre o quanto estamos preparados para variabilidade e aleatoriedade.

E em forma alguma quero misturar ser frágil com ser vulnerável. É muito libertador saber que você pode sentir o que quer sentir e ser quem você quer ser. E ao se perceber vulnerável, na prática você deixa de ter medo de ser “descoberto”, pois não existe nada para se descobrir além do que está ali.

E isso pode ir além, por exemplo você deixar de focar nas suas fraquezas e passar a focar naquilo que você é muito bom, e garantir que possui pessoas/equipes que te ajudam nos pontos onde você é frágil. Trabalho em equipe permite isso.

Mas nem para tudo isso vai ser verdade. No meu jogo de tênis, sou obrigado a trabalhar na cadência do meu jogo de backhand, porque ele vai ser usado contra mim. Mesmo sabendo da importância do jogo interno, pode ter certeza que receber golpes no backhand um jogo inteiro pode ser bem chato para o lado mental. 😛

Sobre vulnerabilidade, se você tem capacidade de perceber e sentir vergonha por algo que aconteceu e ter vontade de se levantar a partir disso, está tudo certo. Se você nunca se envergonha nem se arrepende de nada, nem se dá o tempo para sentir o que está acontecendo, se você está sempre certo… você parece não ser nada vulnerável, mas com certeza é bem frágil.

Olhe para o seu dia a dia, olhe para sua empresa, pense em coisas que você precisa prestar atenção para ser mais anti-frágil, e ao mesmo tempo se permitir ser mais vulnerável. Quer exemplos?

• Se você usa uma ferramenta para trabalhar, qual o plano B dela? Se a ferramenta parar de funcionar, como você faz o seu trabalho?
• Se você depende de outras pessoas para trabalhar, você depende de indivíduos ou equipes de trabalho? Se são invidíduos, você tem outras pessoas que podem fazer o mesmo trabalho? Se uma data é perdida, você fica sabendo quando? Qual o impacto?
• Se seu computador de trabalho para de funcionar, você perde algum arquivo? Você pode começar a trabalhar em outro computador no mesmo momento?
• Se ao acordar pela manhã, o tempo está 100% diferente do que você tinha planejado, como você fica? Qual a sua dependência naquele desejo do dia anterior?
• Quando o inesperado acontece, e ele acontece, qual o impacto no planejamento do seu dia?
• Quanto de espaço você cria para poder escutar pessoas do seu convívio nos seus desafios diários? Quando elas te passam um feedback que não é legal. Como você fica? Você tem pessoas para escutar os seus desafios diários? Como você “descarrega”?

Olha o tipo de pergunta que estou fazendo… elas parecem ser perguntas simples, mas conheço pessoas que perdem o eixo quando algo acontece ou algo se perde relacionado aos assuntos acima.

Resiliência, redundância, saber funcionar com variabilidade, incerteza e aleatoriedade, essas são as questões que precisamos estar prestando atenção e que precisamos saber navegar.

— Daniel Wildt (acompanhe meus vídeos no youtube)