Eu queria não ter trabalhado tanto?

E eu posso achar múltiplas desculpas para dizer o que me levou a fazer isso. Não que se tenha resolvido, importante dizer.

Talvez hoje eu olhe para tudo que construí e entenda que eu busquei ter fontes de renda diferentes para não ter forma de ficar sem dinheiro. Este processo me ajudou a buscar os caminhos da educação, da escrita e depois de consultoria / mentoria. Quando me falam que eu sou um empreendedor, com as diversas vivências que tive e ainda tenho… eu respondo que eu só tenho medo. 🙂

Agora é dia 21 de janeiro de 2024, 11h40mins da manhã de domingo. E eu estou aqui, escrevendo. Eu teria outras diversas atividades para poder fazer, mas essa é a prática que eu quero consolidar e iniciar meu dia com. Eu preciso dela para poder produzir meus cursos e livros, assuntos que quero que sejam meu foco quando falo das iniciativas de educação.

Eu vivo com diversos projetos em paralelo e tenho mantido algumas práticas diárias. O escrever é uma delas. A escrita é forma também de esvaziar algumas bolsas de pensamentos. O refletir sobre a efetividade das minhas práticas, vivências e princípios, pode ser uma delas.

O trabalhar bastante não é um problema, mas o perceber que estamos enxugando gelo ou que o trabalho não está mudando nada ao redor é um sentimento que não aconselho. Importante notar que este é um pensamento de privilégios também. A maioria das pessoas trabalha para pagar suas contas e existência.

Modo sobrevivência? O passo de encontrar um trabalho que você aguenta, para poder desenvolver as práticas que façam sentido para você, é algo essencial.

O trabalhar muito pode ser um sintoma de querer acelerar alguns processos. Em um dado momento da minha vida, que já falei algumas vezes e que deu origem antecipada aos meus problemas de saúde e meu esvaziamento e desistência das minhas atividades de 2006, eu trabalhava todos os dias da semana pelo menos 8 horas por dia. E o pelo menos neste contexto é para dizer que o mínimo eram 12 horas em dias úteis e 10h no dias de final de semana.

Eu fiz isso durante 5 anos da minha vida, e posso dizer que eles foram úteis em alguns aspectos. Eu me desenvolvi tecnicamente em um tempo que algumas pessoas demoraram 10-12 anos para fazer o mesmo caminho. Financeiramente não foi ruim, mas me prejudicou por não viver o que deveria ter vivido com as idades que eu tinha. Eu não tinha tempo a perder e só queria saber do que poderia dar certo (financeiramente). E quando encontrava algo que pudesse ter essa linha, eu botava energia. O medo e uma questão de viver a vida que outros me diziam que eu teria que ter, colava bastante aqui.

Outro problema é que ainda acontece de amigos me mostrarem fotos de eventos e situações que eu não me lembro. Tive apagões de diversos momentos da minha. E um destes eventos, onde fiquei feliz por ter tido mais um episódio de labirintite (e me daria uns dias de folga), me fez parar. Tive problemas de saúde identificados e uma indicação de mudar o estilo de vida.

E aí, novamente, por medo, eu resolvi buscar caminhos diferentes. E busquei um lugar onde eu pudesse ter apenas poucas responsabilidades e uma limitação de tempo. Alguns locais já trabalhavam com carga de 8h diárias, mas este era de 8h48mins. Me perguntaram se eu tinha um problema de trabalhar 9h diárias… dado meu contexto do momento, seria quase trabalhar 50% menos, pelo menos em horas trabalhadas.

O tempo passou, e hoje eu consigo ter momentos onde trabalho bastante e momentos onde consegui criar liberdade mesmo em dias da semana. Eu consegui encontrar um estilo de vida onde consigo ser mais assíncrono, não simultâneo, e assim consigo trabalhar a partir das 6h da manhã e consigo ter tempo livre 15h de uma quarta-feira. Claro, pode acontecer que domingo 17h eu esteja em uma reunião, e tudo bem se este desenho de tempo livre nos dias de semana exista também.

Pra dizer que o processo de trabalhar pouco ou muito só me afeta quando “atrapalha” o estilo de vida que quero viver. Seja no lance da tranquilidade ou o tempo que quero ter perto de algumas pessoas da minha vida.

Eu considero que consegui sair da “corrida de ratos” padrão, claro que sempre reconhecendo um caminho de privilégios, mas esta saída da corrida tem mais relação com entender a relação de custo de vida e o que eu realmente preciso. Diria que um pouco de consciência de minimalismo. E também de consciência financeira… e aí eu encontro a realidade que eu não cuidava de mim, só dos problemas de outras pessoas. Fico em segundo plano e coloco uma energia que não recebo de volta.

O que me tranquiliza e não me deixa em um pensamento de injustiça, hoje em dia, é que quando faço, faço de DE propósito.

O trabalhar, usar energia nas minhas práticas e projetos, vai seguir. Cada vez mais presente e entendendo formas de como eu posso contribuir com outras pessoas, com os caminhos e histórias delas.

— Daniel Wildt

P.S.: Essa frase do título é um dos arrependimentos antes de morrer, do trabalho de Bronnie Ware, que em 2009 fez um artigo que ficou muito famoso, sobre arrependimentos de quem está morrendo (“Regrets of the Dying“).

P.S.: do iniciar e pós interrupções por causa do horário… termino este texto 12h54mins de domingo.

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