De um tempo para cá, vejo muitas pessoas com rotinas matinais “iguais”, com atividades como acordar antes das 5h da manhã, banho gelado, meditação e outras atividades que não importam aqui.
Queria falar sobre o que acontece depois que esta rotina termina. Você se prende a um calendário industrial e precisa viver 8-9 horas seguidas e “ter produtividade”?
Quando você vai desafiar esta parte do seu processo?
Eu sempre me vi como uma pessoa noturna, brinco que muito por causa do pulso único na época dos modem de 56kbps. Talvez também pelo silêncio para jogar jogos.
Só que depois de um tempo, eu consegui fazer minha familia entender que eu estava tentando terminar um jogo, e precisava “focar” independente do horário. E aí consegui jogar algumas tardes inteiras ou dias inteiros dependendo do jogo. Mesmo que tivesse um belo dia de Sol. Eu estava a fim de jogar. O mesmo aconteceu com o estudar e o programar.
Se jogo online não tem pausa, na minha época alguns jogos não tinham opção de salvar progresso. Era muito perigoso pausar um jogo. Alguém poderia tocar no videogame e travar o jogo. Tempos de muita emoção.
Muito cedo na minha vida universitária eu aprendi que poderia praticar esporte em um dia pela manhã, mas achava estranho. Ir na academia 10h manhã? Só vão as pessoas desocupadas. Esse era o pensamento que tive durante algum tempo.
E aí veio uma leitura sobre Ricardo Semler, onde ele questiona: se eu posso ler emails do trabalho domingo pela noite, qual motivo de não poder ir no cinema quarta-feira pela tarde?
Essa leitura, junto com a leitura de Domenico sobre Ócio criativo, me fizeram refletir e questionar cada vez mais sobre o tempo que vivia.
De 2002 para 2003 eu fiz uma mudança. Ganhei uma fonte de renda extra e não tinha uma necessidade de trabalhar em tempo industrial. Parte trabalhava em consultoria e aulas, outra parte atendia uma empresa apoiando em algumas provas de conceito e desbravando projetos novos. Parte noites, parte dias, parte tardes, Algumas visitas. Viagens. Em paralelo estava desenvolvendo minhas atividades em comunidades de prática e escrevendo tecnicamente para revistas.
Em 2004 adiciono uma terceira fonte de renda, e passo a dar aulas em faculdade. Fiz isso em cursos de graduação por 7 anos. E em cursos de pós graduação por mais ou menos o mesmo tempo, mas iniciando em 2009-2010. Novas fontes de renda.
O ponto é que estas fontes de renda aconteciam em momentos e cadências diferentes. Elas me permitiam sair para treinar basquete no meio dia ou depois em determinada oportunidade comecei a treinar basquete nas quintas 10:30 da manhã.
Sistematicamente comecei a desafiar os sistemas que estavam impostos sobre tempo contínuo e “alta disponibilidade” para entender que no trabalho do pensamento lean, podemos atuar em prevenção. Podemos criar cadência e previsibilidade de conexões. E podemos garantir trabalho de foco e não simultâneo. Essas reflexões vieram pela primeira vez em 2000-2001-2002, tempo também que tive acesso a Seneca pela primeira vez.
E com este processo, comecei a ver e entender que eu poderia fazer meu treino funcional na parte da tarde, quando a academia estava vazia. Eu poderia ir na minha psicóloga em horários que o trânsito ajudava melhor (hoje faço online que é melhor ainda). Descobri que tranquilidade é um privilégio. E se ela me ajuda a ampliar minha zona de conforto, quero cada vez mais.
Eu comecei a desafiar toda e qualquer necessidade de rotina de tempo fixo. Eu leio todos os dias. Eu escrevo todos os dias. Eu caminho praticamente todos os dias. Quando tem dia sem chuva, faço meus arremessos. Isso faz parte do meu pelo menos, 14km por semana, 3000 mil arremessos certos no mês.
Agora, a minha agenda se movimenta. E tem uma coisa que movimenta esta agenda. A hora que vou dormir. É a única coisa fixa.
Exemplo, no dia 01 de novembro para o dia 02 de novembro, que é um feriado, fiquei assistindo um jogo de basquete e depois o final de um jogo de futebol americano e depois segui assistindo alguns vídeos no youtube. Eu fui dormir entre 2h e 3h da manhã, coisa que não é tanto mais comum para mim.
E aí, como acordei no dia seguinte? O ponto é que eu não acordo em um horário fixo. Eu acordo entre 6h e 7h30mins depois que eu durmo. Então meu alarme fica normalmente configurado para eu acordar depois de 8h de sono. Um alarme, configurado sempre na hora que vou deitar. Isso porque entre 7h30mins e 9h de sono meu corpo não aceita muito bem. Fico mais cansado que descansado.
E durante o meu dia tenho estas rotinas para fazer. Faço meus exercícios, faço minhas leituras, faço minhas escritas. Me permito molhar a grama meio dia ou 17h, caminhar pelas 16h, ou pelas 10h. Arremessar alguns dias pelas 11h ou pelas 18h ou 19h.
Eu organizo para ter poucas reuniões no dia. Evito ao máximo reuniões nas sextas-feiras. Costumo ter vários momentos de tempo contínuo disponível no meu dia para poder focar e trabalhar em assuntos que fizerem sentido para aquele dia.
Parei de ter medo de assistir um filme em um dia pela tarde, assim como não vejo problemas de escrever e entregar algo em um dia de feriado, nem vejo problema em aproveitar o Sol em um dia legal. Tudo começa na agenda.
O “milagre” está em como você vive seus dias. Se você se obriga em fazer coisas entre 5h-8h da manhã, pois depois não tem controle do seu dia, saiba que seu trabalho está só começando. E se eu puder dar uma única dica, cuide do seu sono.
E ah, antes que você pense… eu tenho rotina, mas com progresso de coisas, não com tempo fixo.
— Daniel Wildt
Extra: eu aprendi a acordar cedo dormindo até mais tarde.
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3 pensamentos sobre “Acordar cedo? Você gosta, ou não tem controle sobre o seu tempo no resto do dia? :P”