Então não é possível desenvolver carreiras estando remoto? Sério?

Estava lendo um artigo falando que a pandemia e os trabalhos remotos trouxeram inúmeras oportunidades de trabalho, mas estão acabando com carreiras. Os argumentos indicados refletem o que vejo em diversos locais que atuam com informação e insistem em dizer que precisam estar “presenciais” para serem efetivos.

Vou indicar o artigo, e você pode ler antes ou depois da minha reflexão.

O artigo é: How Remote Work Saves Jobs and Kills Careers. Meu objetivo aqui não é tentar jogar contra o que o artigo trata, mas trazer como eu vejo carreiras. E eu não vejo uma. Eu vejo identidades, vejo nossas habilidades sendo colocadas disponíveis para projetos e organizações. O seu papel nestas organizações? Isso é outro jogo e depende muito mais de como elas se organizam, do que de você.

Vamos aos pontos trazidos pelo artigo.

Sobre o trabalhar remoto? É trabalhar. É um jeito que não tem mais volta. Inúmeras pessoas estão conseguindo operar de forma online, não simultânea, nômade. Estão conseguindo atuar com sua empresa e operando com o seu tempo em diversos projetos. Você vai ter agendas de trabalho contínuo, agendas para complementar conhecimento e ganhar contexto.

Carreiras requerem presença (Careers require presence). Presença é disponibilidade e responsabilidade. Você pode dizer que os movimentos políticos e a rádio corredor pedem o café e a rádio corredor… mas aí estamos falando sobre o ambiente. Que ambiente que você quer ter? Deveríamos buscar um ambiente de segurança. Que disponibilidade você quer oferecer ao ambiente? Ah, disponibilidade não é estar disponível 24×7. Disponibilidade é poder organizar cadência de conversas ou habilidade de respostas. Presença é criar espaço para poder conversar e atuar em problemas e oportunidades. Padronizar, desafiar e evoluir são formas de criar presença.

Carreiras requerem conhecimento informal (Careers require informal knowledge). A comunicação precisa ser intencional. O informal, o tácito, precisa ser transformado em explícito. Na verdade, essa é a grande transformação quando falamos em gestão de conhecimento, transformar o conhecimento tácito em explícito. Isso pode se apresentar em espaços para trocas de ideias. Espaços para conversas, para reflexão. Mais uma coisa importante. Estes espaços não conseguem ser criados, se pessoas não podem operar em 100% da sua capacidade. Precisam estar disponíveis para o que aparece, para o que se torna surpresa.

Carreiras requerem iniciativa (Careers require initiative). Como você ajuda pessoas a organizarem o seu movimento de aprendizagem? De evolução? Quais são os caminhos existentes dentro da empresa para pessoas poderem evoluir tecnicamente? Qual a mobilidade para pessoas poderem assumir novos papéis, e desenvolver mais habilidades? São caminhos de autonomia, de desenvolvimento de habilidades e oportunidades? Ou as pessoas esperam caminhos de acúmulo de poder? Sempre é possível pensar em diferentes formas de usar o poder.

O fator humano nas tomadas de decisão são difíceis de recriar (The human factor of decision-making is hard to recreate). Existe um papel importante a ser desenvolvido, de facilitação. Existem pessoas na empresa que se percebem como mediadoras. Estas pessoas devem apoiar processos de tomadas de decisão. Devem ajudar a criar formas sincronas e formas não simultâneas para tomadas de decisão. Devem permitir criar formatos de tomada de decisão. Entendimento de quem deve tomar uma determinada decisão. Quando falamos de design, teremos uma série de dinâmicas e exercícios possíveis para apoiar o espaço de problema, espaço de solução e a entrega de uma solução. Conduzir espaços, manter abertura, manter energia, estes são os grandes desafios. Quebra gelos? Pula essa.

E aí?

Se você quer desenvolver uma carreira, elas seguem por aí. De duas formas: (1) empresas tradicionais, que operam no medo. E (2) existem empresas interessadas em ter você presente, para que você possa desenvolver papéis, responsabilidades e um propósito. E eu sigo nessa minha busca, desenvolvendo identidades, e entendendo que podemos ter maneiras de operar na especialização e também de modo generalista.

— Daniel Wildt

Extra (update julho/2021): fiz uma conversa com o Ricardo Binns e Fabio Jascone no Papo Pinado.

Você pode apoiar a minha jornada de conteúdo através do projeto A Filosofia da Tranquilidade! Venha conhecer mais a minha iniciativa!

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