Employee branding, práticas para retenção de talentos, e como a gente vem criando um mercado tóxico e saturado com empresas se mostrando cada vez melhores em redes sociais e fazendo de conta que são lugares de puro sorriso e oportunidades infinitas para a felicidade das pessoas.
Tudo parece fazer parte de um jogo. Manter pessoas em empresas vira um trabalho de gamificação, e a cada dificuldade encontrada se desenvolvem novas dinâmicas e quebra gelos para permitir iniciar algum trabalho de mudança ou de adição de novos processos.
Dá pra gente recomeçar?
A gente tem capacidade de sentir, ler, falar e escutar. Mesmo com alguma necessidade de adaptação, conforme nossas limitações, conseguimos exercitar estas habilidades.
Uma situação comum. Quando estamos em uma empresa, por vezes não concordamos com algo. O que nos impede de falar que não concordamos?
- Não deveria falar nada pois somente deveria trazer boas notícias para a empresa.
- O medo do que outras pessoas vão pensar.
- O medo de estar criando um problema e daqui a pouco perder o emprego.
- Saber que não adianta gastar energia com isso porque a empresa diz que escuta e não faz nada.
- Melhor deixar para falar mês que vem pois este mês tem avaliação de desempenho.
- A pessoa que deveria me escutar não gosta de mim porque acha que eu quero o emprego dela.
- E assim vai… tenho certeza que você já pensou em várias outras opções.
Nos estudos dos pontos de gestão do Deming, aparece o ponto número 8 que pede que a gente elimine o Medo.
Aqui entra algo que vem aparecendo muito em equipes de tecnologia que é a cultura Blameless, onde sim, pessoas possuem responsabilidade sobre o que fazem, mas eventualmente erros serão causados e problemas vão aparecer a partir do trabalho que pessoas executam. O que acontece a partir disso? Sabemos por princípio que as pessoas estão fazendo o seu melhor e buscando operar para fazer certo o que precisam fazer.
Como construir um ambiente seguro, para que pessoas possam se desenvolver, pedir ajuda, e poder construir um espaço de escuta e aprendizado contínuo?
O meu convite é que olhe para sua equipe e para sua empresa e teste a palavra abertura. Existe abertura? Existe espaço de escuta? Uma pessoa pode trazer uma pergunta ou uma dúvida? Uma pessoa pode falar que não sabe? Uma pessoa pode dizer que está com algum problema pessoal e precisa “pegar mais leve” no dia a dia para poder suportar algo externo?
Abertura é um dos valores do Scrum, descritos em uma das atualizações recentes do Scrum Guide. Openness.
Muitas empresas falam sobre respeito, mas não falam sobre abertura. Então acaba que respeito vira uma palavra de poder, pois se você não tem poder, o que sobra é manter o silêncio e respeitar as decisões sendo tomadas.
Abertura deveria nos manter no modo aprendiz. Sempre temos o que aprender. Sempre temos o que perguntar e manter a curiosidade nos ajuda a crescer.
Em março de 2020 fiz um vídeo olhando um pouco para este assunto. Quase um ano depois, a minha busca e minha crítica ainda segue para o que vejo muitas empresas não fazendo. Ainda tem tempo. Sempre tem tempo para aprendermos e para nos posicionarmos como lugares mais humanos. E principalmente em tecnologia, ainda é tempo de criarmos ambientes e comunidades menos tóxicas e baseadas em construção conjunta. Acompanho comunidades de tecnologia desde 2002 e já vivi muitos momentos diferentes nestes processos.
Como você poderia lidar com a palavra abertura no seu contexto? Querendo conversar a respeito entra em contato! É um assunto do meu interesse diário. Como tornar ambientes mais leves, como criar mais presença e pertencimento.
— Daniel Wildt
4 pensamentos sobre “Abertura”