Na empresa de treinamento, na Wildtech, temos um programa de bolsas. Qualquer pessoa pode pedir uma bolsa para os nossos cursos. Quem está trocando de carreira, quem está sem trabalho no momento… e é uma ação silenciosa. Você nunca vai ver a gente anunciando quantas bolsas a gente forneceu ao longo da nossa história. Quem recebeu sabe que recebeu.
O problema foi que um dia uma pessoa pediu 100% de bolsa porque era uma opção possível na caixa de seleção. E aí eu fiz uma reflexão com ela, sobre o entendimento do que significa pedir e um pensar sobre abundância e escassez.
Aqui segue uma das minhas respostas, que guardei para um dia publicar. Esta história é do início de 2020. Aqui vai:
Uma dica que eu te dou neste processo de comunicação é sobre o pedir. A gente pode pedir, e precisa ser completo sempre neste processo de pedir. Joga tudo que tens aí, tuas necessidades e teus anseios e deixa claro o teu sacrifício e consciência.
Sobre o lance da bolsa do 100%, aí cabe eu te contar uma história. Eu participei de alguns trabalhos onde apesar da gente trabalhar a mesma quantidade de horas, a divisão do dinheiro não era feita dividindo entre as pessoas igualmente. A gente usava um processo chamado “money pile“, onde existia um processo de questionamento contínuo da minha necessidade, da necessidade da outra pessoa e do meu sacrifício.
Isso queria dizer que caso a gente tivesse que dividir R$800 reais entre 4 pessoas, eu por ter outras fontes de renda pegava R$50 e poderia sugerir (um movimento) uma divisão entre as pessoas baseado nas necessidades que tinha conhecimento delas:
Pessoa 1: R$50
Pessoa 2: R$150
Pessoa 3: R$200
Pessoa 4: R$400
A partir daí cada pessoa avaliava o seu real problema e necessidades e esse dinheiro dançava entre as pessoas. Claro, as pessoas poderiam indicar que estavam satisfeitas com o valor que tinham recebido. Eu tinha tido muita gratidão de ter feito aquele movimento, de poder aprender, e estava interessado que a pessoa 4 pudesse pagar o seu aluguel. Sabia desta necessidade dela e gostaria de apoiar isso.
Depois de várias voltas, e juntando contextos que os outros tinham, a divisão ficou assim:
Pessoa 1: R$100
Pessoa 2: R$100
Pessoa 3: R$150
Pessoa 4: R$450
O jogar com o dinheiro como recurso é uma questão interessante. Este movimento aconteceu faz 7 anos agora eu acho… e o primeiro foi o que mais me marcou. O que ficou foi o aprendizado das pessoas 2 e 3 sobre isso. Eu como comentei, tinha outras fontes de renda e não estava preocupado comigo, mas foram tantas voltas que aceitei ficar com o R$100, pois eles entendiam que minha participação teve muito valor, e eu deveria aceitar receber mais do que o meu sacrifício.
O das pessoas 2 e 3 era o entendimento delas funcionarem no limite do sacrifício delas, para que a pessoa 4 pudesse receber um valor adequado. Quando a gente pensa na questão da bolsa a gente pensa neste limite. Isso quer dizer que a pessoa poderia nos retornar dizendo que pode pagar R$50 reais pelo curso, esse é o sacrifício máximo que ela consegue. Essa é a discussão que quero trazer para ti.
Não pede 100% porque existe a opção de pedir 100%. Pede 100% porque esse é o percentual que funciona dentro do teu sacrifício e mesmo visualizando que talvez outras pessoas fiquem sem esta oportunidade, tu ainda assim estás consciente da tua necessidade. As bolsas são um recurso finito, e não tem para todo mundo. Quando tu pensas a respeito de ti e dos outros, buscando o teu limite de sacrifício, o jogo muda. A gente passa a operar em modo abundância, porque estamos entendendo o nosso sacrifício e estamos consciente do outro, e entendemos que os outros vão entender e perceber a nossa necessidade.
Cuida do espaço, cuida da sua necessidade e do seu sacrifício. Sempre.
— Daniel Wildt
Sobre a arte de pedir, você pode sempre assistir a fala de Amanda Palmer, e querendo muito me apoiar, pode olhar meus projetos.