Ninguém está te pedindo para correr

Sério. Pode se acalmar.

Situação: Cheguei na recepção de um prédio comercial, para uma reunião com cliente. A pessoa que me atendeu já estava decepcionada com o cliente anterior, que não estava encontrando a identidade para poder apresentar e ter o cadastro na recepção. Pediu para o cliente esperar e me chamou. Vem vem! Eu fui. E ao me atender, fez perguntas de forma acelerada, queria ser rápida, queria ligar logo para o cliente, confirmou a sala que eu iria umas 3 vezes, ligou, usou meu nome do meio, confirmou que eu poderia subir, e ao me entregar o documento + cartão de acesso, senti como se ela me empurrasse para os elevadores. Ainda era 9:54 da manhã. Essa pessoa ainda vai ter pelo menos mais 5-6 horas de trabalho durante o dia, para poder voltar para a sua vida e reencontrar as suas reais preocupações, se ela lembrar de parar. E respirar.

Ninguém estava pedindo para ela correr. Eu estava tranquilo, já tinha avisado o cliente que estava chegando para a nossa conversa. Quando ela estava correndo com os procedimentos, marretando o teclado, olhei para trás e tinha uma pessoa esperando, que olhava de forma bem atenciosa para o celular, criando alguma atividade no momento quieto.

Ela não precisava correr. Você também não precisa correr, a menos que esteja realmente correndo e treinando, fazendo bem para a sua saúde. 😛

No nosso dia a dia, a nossa aceleração em geral não busca mais produtividade, mas simplesmente trata de alguma forma uma ansiedade inconsciente ou tenta dar vazão para algo, que não necessariamente é um problema precisando de solução.

Porque trabalhamos mais horas do que precisamos? Ontem era 2h da manhã e eu estava dando atenção para algo menos importante que a minha qualidade de sono. Quando notei isso, parei na hora e fechei o notebook. Dormi.

Porque aceitamos mais trabalho que a nossa capacidade de atuação? Onde ficaram os nossos limites, a nossa possibilidade de indicar e de aceitar os limites de quem atua conosco? Onde está o nosso respeito com a nossa respiração? Onde está o nosso respeito com a nossa vida?

Ela não precisava correr. Eu não estava frustrado com a aparente demora para fazer o registro em um sistema de acesso de um prédio. Faz parte. Eu entendo que isso acontece. E sei que da próxima vez que for neste prédio será mais rápido.

Igual, porque a gente acha que precisa ser mais rápido? Quando eu desenvolvo software eu tenho clareza se estou em modo de descoberta ou modo de execução. Quando estou em modo de execução tenho organização, rotina e clareza do que precisa ser feito. Quando estou em modo de descoberta tenho liberdade e também um componente de espera, pois nem toda informação vai estar presente quando eu precisar dela.

Para a pessoa que estava me atendendo, ela sabe quanto tempo demora para executar o cadastro no sistema. Vai ler um nome, 11 dígitos de um cpf, a indicação da sala que vou e pronto. Depois liga para a empresa e libera um crachá. Agora, ela não sabe se a pessoa vai ter o documento em mãos, se vai lembrar de cabeça os números do cpf, se vai lembrar a sala exata que vai… esse é o modo descoberta. Precisamos fazer perguntas que precisamos fazer, para podermos executar o que precisamos executar.

O processo de descoberta exige paciência, porque nem toda informação vai estar presente quando você quer. E talvez a informação não exista, e antes de executar, você vai precisar observar e medir.

O nervosismo, a ansiedade, o rápido por querer fazer logo alguma coisa não nos ajuda a ter consciência do que fazemos e do porque fazemos. O objetivo não é ser capaz de digitar um cpf mais rápido. O objetivo é prestar um serviço com segurança e garantir que a pessoa vai chegar no lugar que ela precisa ir, seguindo as regras e controles do condomínio. O objetivo não é ser capaz de fazer uma jornada de trabalho de 16 horas. É ser capaz de gerar valor e entender quem me ajuda e quem eu ajudo.

O que eu quero indicar, para fechar esse escrito? Três coisas que indico e me pergunto quando saio do automático. E usarei um “3C” para isso:

  • Contexto: onde você está? O que você está fazendo agora? Você está em um momento de descoberta ou de execução? Em que momento você deveria estar? E qual momento você realmente está? Você quer parar agora e respirar um pouco? Fazer algo diferente? Já pensou que pode ser uma opção?
  • Causa: isso que você está fazendo, está servindo para que? E para quem? O que precisamos saber para poder seguir em frente?
  • Consequência: quando você terminar o que está fazendo, qual será o resultado? Qual será o ganho, benefício que o mundo vai ter? Será que faz sentido você fazer agora, ou poderia ser feito mais a frente? Ou você já está em atraso? Será? 😀

Se quiser trocar mais ideias, estou sempre disponível. Me ache em alguma rede social e manda uma DM, mas faça no seu tempo. Sem correria. 😀

4 pensamentos sobre “Ninguém está te pedindo para correr

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