Ou a importância do compartilhar para aprender.
Tava ouvindo um episódio de podcast sobre produtos que possuem código aberto. O texto surge depois desta escuta.
Neste caso eram todos produtos que já tive contato. Várias conversas já tive com Gabriel Engel da RocketChat, já usei o MConf como usuário pelo notebook e pelo navegador do mobile (passou no teste bem!), já troquei ideia com a galera da Ilhasoft e ainda pessoal da TotalCross. Estamos em 2020 e ter produtos com código aberto por vezes exige uma tese de empreendimento mais forte do que qualquer outra.
Quais são os medos e os receios de quem possui um produto de código aberto?
Talvez antes seja importante trazer a discussão sobre opensource x software livre. Ter o código aberto pode ser interessante por uma série de motivos, mas existe uma discussão importante de ser feita, sobre a licença utilizada. O código é aberto, mas o software é livre ou não?
Estes dois termos se confundem na tradução e eu aprendi cedo sobre esta diferença.
Quando eu comecei a querer entender sobre software livre.
Ainda estava iniciando na faculdade e comprei o Conectiva Linux. Veio na caixa. Paguei pela caixa (meu pai pagou no caso – presente).
O código estava disponível para qualquer pessoa baixar pela internet, mas… eu não tinha internet. Então comprar uma distribuição de linux em uma loja fazia sentido para mim.
Eu tinha um 386 com 1Mb de RAM e 60Mb de disco. Já existiam máquinas melhores, Windows 95 já existia em 1996-1997, Delphi já existia, Java estava nascendo, JavaScript estava brotando pro mundo.
Bom… disquete colocado, boot, e aparece:
$ _
Jogo um “ls”. Isso me deu uma felicidade fora do comum. Era isso, iniciava um ambiente e eu ganhava uma tela de terminal. E isso me deu felicidade.
O código era aberto, eu paguei por ele, e eu sabia que isso seria algo importante para aprender e manter perto.
Usei linux como sistema operacional principal de 2002 a 2004. Só trocava para Windows para codar em Delphi. Logo, eu praticava muito usando o Kylix, e inclusive palestrei no FISL sobre o assunto mais de uma vez, mostrando como eu conseguia montar um ambiente de desenvolvimento GPL (Gnu Public License – falo mais sobre isso daqui a pouco) usando o Borland Kylix Open. Era uma IDE gratuita para desenvolvimento de código licenciado GPL. Inclusive quando o executável rodava, aparecia uma mensagem indicando que aquele programa era licenciado em GPL.
Lembrando que desde muito tempo existe o freepascal e o Lazarus, que davam essa liberdade.
O linux que passei a usar nesta época era o Mandrake Linux. Eu preferia pagar pelos CDs de instalação ao invés de ficar gastando horas e horas de download. Depois troquei para o Mandriva (Mandrake + Conectiva) e depois Ubuntu (é a que escolheria hoje).
De 2010 em diante, meu setup principal é um MacOS, e sigo com o $_ fazendo parte do meu dia a dia seja em um terminal mac ou uma VM com Linux.
Sempre precisei trabalhar com múltiplos sistemas operacionais, diversos Linux e diferentes Windows. Sempre busquei aprender e somar e tentei me colocar com visão generalista neles. Aprendo o que preciso e claro, dependendo do momento de vida mais foco em um do que outro.
Quando vi acontecer PERTO DE MIM
Em 2004 quando conheci o Guilherme Lacerda e a história da Apoena Software Livre tive noção da importância do “Software Livre”. Todo produto que o Guilherme produzia era livre. A licença utilizada fornecia liberdade de evolução, cópia, uso e modificação para quem tivesse acesso ao código. E exigia o mesmo comportamento dali para frente. Se eu mudar o fonte para meu benefício, preciso publicar esta modificação para o mundo saber o que fiz e como estou usando. Também poderia contribuir com o produto do Guilherme e aí nasce um dos poderes do código aberto: o poder da contribuição.
Lembro que discutia com o Guilherme sobre como ganhar dinheiro com software livre, mas eram duas discussões diferentes. O modelo de negócio, forma de instalar, serviços de suporte profissionais, pagar por evoluções, tudo fazia parte deste jogo e era bem mais complexo do que a forma de liberação de um código fonte.
O FATO QUE É MELHOR ACEITAR
As pessoas irão copiar o que você faz independente do código ser aberto ou não… aí estão o reels, stories e outras cópias de produtos como tiktok e snapchat.
E também, falando de produtos com código aberto, apesar do código estar ali disponível, não é todo mundo copiando e fazendo clones. O diferencial não está no código. Empresas possuem estratégias, posicionamento e alma. Este posicionamento e estratégia vão ajudar no desenvolvimento do código e da comunidade envolvida com ele. O copiar, existem empresas que são conhecidas por fazer isso. E não existe nenhum problema em copiar. É uma forma de estabelecer uma meta. Melhor ainda quando você avisa que quer ser a empresa X no lugar Y do que ficar no modo Pink e Cérebro pensando em como dominar o mundo sem sair do lugar. 😛
INSPIRAÇÕES PARA UMA VIDA DE PRODUTOS
Posso dizer que foi importante na minha formação como produtor de conteúdo ver o Guilherme Lacerda fazendo história com a Apoena Software Livre no início dos anos 2000, mantendo diversos sistemas gerenciais e ajudando pessoas em usar os mesmos pelo Brasil. Ainda guardo um bloco da Apoena para lembrar sobre a necessidade de termos interesse genuíno e acreditar no que criamos e produzimos. No caso da Apoena, esse interesse pelo software livre ficava no nome.
Eu era um profissional de serviços e somente em 2009 vivi a experiência de criar um produto. Antes disso, eu pratiquei a vivência de comunidades e de criar conhecimento aberto.
Penso muito neste processo com a Wildtech, quando falamos em produzir produtos. Tá no backlog. 🙂
Quer dizer, o Guilherme Lacerda já começou a fazer coisas acontecerem com o DrTools.
AS LIBERDADES
Para poder pensar em cobrar, copiar ou modificar, antes você precisa ter liberdade de acesso ao código. E as quatro liberdades de software livre falam sobre (0) executar o código, (1) estudar sobre o código, (2) redistribuir para poder ajudar outros e (3) distribuir versões modificadas por você.
Tudo começa com a licença. Então quando você pensar em liberar um pedaço de código na internet, deixe visível qual a licença que você usa. Isso inclusive para liberar você de responsabilidades sobre o código fonte liberado.
Agora, se você está usando um pedaço de código fonte em um sistema seu, garanta que você tem essa possibilidade. Digo isso pois caso o código fonte que você está usando tenha a necessidade de você republicar, você precisa ter esta consciência. E não fazer o que está combinado na licença de origem mas você violar a licença. Novamente, estamos falando de consciência.
Normalmente ferramentas que permitem uso comercial possuem licenças como LGPL, MIT ou Apache. Até mesmo o seu conteúdo pode ter uma licença. Este blog possui uma licença Creative Commons, que diz que você pode usar este conteúdo tranquilamente, mas eu peço que você indique a origem. Pode copiar tranquilo, mas fala que copiou daqui. 😀
Daí que se iniciam as diferentes opções de distribuições de linux, para os mais diversos objetivos. Tem linux no Windows, o Android tem base no kernal Linux. Mudou o modo como produzimos tecnologia. Tornou mais plural.
CRIE E COMPARTILHE
OpenSource é uma oportunidade para aprender, para desenvolver colaboração e conhecimento. O seu perfil do github ou libregit é uma oportunidade de fazer isso acontecer. Até, vejo alguns bootcamps criando clones do netflix… se você quer ajudar um projeto de verdade sobre isso, olhe o libreflix, que possui muitas publicações disponíveis.
Outra referência para mim neste assunto foi o Daniel Weinmann quando publicou o Catarse. História excelente também e diferenciada em 2010.
Tornar um código aberto é mais que “publicar fontes”. Envolve cuidado, acesso e continuidade. Na verdade, é muito mais difícil manter um código aberto, por todas variáveis e cuidados com comunidade que se tornam necessários.
— Daniel Wildt
Ah, o podcast que ouvi que deu origem a este post, Startuplife. Ouvi no spotify.
Republicou isto em REBLOGADOR.